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A journey (not a destination)1
(por António de Névada)
Caminhamos assumindo a contiguidade, o caminhante e o labirinto, a índole do Homem e as matérias justapostas. Pernoitamos a meio do Caminho sem que ninguém saiba o motivo de aqui nos permanecermos. Ninguém desconfia da vastidão, do vácuo devastador sobre as nossas humanas convicções de homens. A parte intacta da madeira queimada, o cerne e a prece, as mãos caóticas repletas de nada, a densidade que se instala na mente e as imensas velas brancas sulcando o mar alto. O linho e o novelo desfazem-se nas mãos tumefactas e inaugurais: nada é tão breve como a lã da urdidura e as pisadas que seguimos!
Sob o tecto do mundo a tragédia não é feita de fábulas comoventes, nem da querela que urdimos com a usura dos dias. Há algo mais cru que a estética dos versos ou a ética do inferno. Nada nos protege da Jornada errante e inelutável, nem mesmo os navios, seus cascos vazios encalhados no limiar da paisagem. No teatro da vida o que permanece submerso não dá azo à graça das marionetas, nada gesticula. Destino algum ou porto de abrigo, nenhuma palavra ou parábola alegórica, tampouco o desamparo, ninguém há que estenda as mãos repletas que nos protejam de todo o sentido incondicional do Amor!
É a outra face do sofrimento, o descontentamento e a matéria vernácula que a sustém, e que pertence a uma realidade mais vasta do que a própria dor: eis o ser intramundano, o ser descomunal por excelência, a Criatura agrilhoada entre o esforço compresente de se transcender para se humanizar, para pertencer A-deus.
A ternura e a flor da amendoeira, a viagem e a lembrança transfigurada como o candeeiro aceso numa noite de neblina, a amálgama abismal de todos os dias, pela sua tremenda similitude, serão apenas criações menores e inocentes?
Eis o pavor fantasmático da intimidade, a obscenidade da intrusão na vida, com toda a sua ambiguidade, em toda a sua amplitude!
Para além do silêncio e dos interstícios
Da razão, existe o caos como um todo
E a mundana neblina que habita os dias.
Homem!
Diz dos teus sonhos da tua solitude
Que a jornada sobrevive
No sentido que persevera a vocação do amor.
1Título da Exposição do Alex da Silva na Galeria Carmina
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